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Abertura do "Segmento de Alto Nível" com os habituais alertas

Terça-feira, 04.12.12

Apesar da Conferência ter quase duas semanas de trabalhos, a parte mais relevante e em que se concretizam eventuais decisões é o chamado segmento de alto nível, cuja abertura acaba de decorrer. Já com os ministros de ambiente de praticamente todos os países do mundo presentes, entre hoje, dia 4, terça-feira, e sexta ou eventualmente sábado se os trabalhos se prolongarem, serão estes políticos que determinarão em parte o caminho, melhor ou pior, que o planeta vai seguir no que respeita às alterações climáticas.

Na sessão de abertura, a secretária-executiva da Convenção, Christiana Figueres apresentou os temas que aguardam progresso e decisão num centro de conferências construído numa estrutura que se baseia numa árvore característica do deserto – a sidra. Apelou à ambição e determinação dos decisores a bem da qualidade de vida das próximas gerações. Seguiu-se a intervenção do Presidente da Conferência, o Vice-Ministro do Qatar Abdullah bin Hamad Al-Attiyah e depois do Presidente da Assembleia das Nações Unidas, Vuk Jeremić que mencionou a necessidade de apostar nas energias renováveis e numa sociedade de baixo consumo, apelando a uma rotura para que o mundo fique melhor do que o encontrámos. [texto do discurso]

A intervenção seguinte foi a do Secretário-Geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, que mencionou o facto das alterações climáticas serem uma crise a todos os níveis. Deu exemplos das consequências, desde o degelo do Ártico às imagens de Nova Iorque e Pequim submersas em água. Entre outros alertas mencionou que “nós coletivamente somos o problema e por isso nós temos de dar as soluções. (…) Cada atraso significará um aumento dos riscos. (…) Temos de atuar já e com urgência. O ritmo e a escala de ação não são suficientes. Considerou que é preciso ter cinco decisões chave em Doha: acordar um 2º período de compromisso do Protocolo de Quioto: assegurar financiamento de longo prazo para o clima para se atingir 100 mil milhões de dólares em 2020; que há esforços conjuntos de mitigação e adaptação; a necessidade de suporte ao Fundo Climático Verde e ao Centro Tecnológico Limpo; que os governos conseguem assegurar que conseguimos ultrapassar o intervalo entre o atual nível de mitigação proposto e o que é necessário para não se ultrapassar mais de 2º graus em relação ao nível pré-industrial. “Vamos acelerar a transformação necessária e vamos abandonar a empatia e ter ambição. (…) Vamos provar às próximas gerações que temos visão.“ [texto do discurso]

Falou ainda o Emir do Kuwait, Sabah IV Al-Ahmad Al-Jaber Al-Sabah, e finalmente o Sheikh Hamad Bin Khalifa Al-Thani, Emir do Qatar (na foto). Este último mencionou o atual clima internacional complicado em termos económicos e de segurança e do papel que as alterações climáticas estão a ter no desenvolvimento sustentável de todos os países a todos os níveis. Lembrou que não há fronteiras e que deve ser abordado de forma integrada e onde a assistência dos países desenvolvidos aos países em desenvolvimento é fundamental. Combater as alterações climáticas implica vontade política e cooperação internacional e estamos ainda longe das aspirações das populações.

Mencionou que o Estado do Qatar (recordista mundial em emissões per capita), já sente os impactes negativos das alterações climáticas e sente também a necessidade de reduzir as suas emissões, mas que é necessário conciliar o desenvolvimento com estas preocupações. Listou os projetos de mitigação existentes e em implementação, nomeadamente os painéis fotovoltaicos que fornecem 12% da energia elétrica do centro onde esta conferência está a ter lugar. Um discurso de agradecimento e promoção do Estado do Qatar, sempre cuidadoso em não mencionar o papel dos combustíveis fósseis, tão caracterizador desta região do Golfo Árabe, nas emissões de gases causadoras das alterações climáticas.

Adenda: os textos dos discursos estão disponíveis aqui em ingês e árabe.

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por Quercus às 13:45

LCA e ADP – Siglas importantes neste momento da conferência

Terça-feira, 04.12.12

A Convenção, e dentro dela o Protocolo de Quioto, consubstanciam muita da sua ação através de grupos de trabalho eu definem objetivos, práticas, detalhes. Em 2007, na reunião da Conferência das Partes em Bali foi criado o Grupo de Trabalho Ad Hoc sobre Cooperação de Longo Prazo (AWG-LCA) que pretendia dar origem a um acordo global para o clima a ser formalizado em Copenhaga. Como se sabe, tal não foi bem sucedido, mas esse grupo tem prolongado o seu trabalho, que no entanto a União Europeia e também as organizações não governamentais de ambiente, entre outros, consideram que deve terminar aqui em Doha. Há diversas áreas que ainda estão em decisão e que podem ser continuadas pelos chamados órgãos subsidiários (SBI e SBSTA), ou passar para o novo grupo Ad Hoc da Plataforma de Durban (ADP), cuja missão é construir um novo acordo para 2015 e assegurar compromissos de redução até 2020.

No primeiro caso (LCA), o texto atual revela falta ambição e integridade ambiental, não mencionando por exemplo nada no que respeita a financiamento para o período 2013-2015, isto é a continuação de apoios para o clima que já vigoraram em 2011-2012, rumo ao objetivo de atingir 100 mil milhões de dólares em 2020. Com diversas partes em itálico (isto é, que precisam ainda de aprofundamento) incluindo o ano em que se deve verificar o pico de emissões ou o aumento máximo de temperatura que se deve atingir desde a era pré-industrial, o texto passa também para mais tarde decisões necessárias e relativamente simples como um acordo sobre o ano base para contabilização das emissões ou os potenciais de aquecimento global dos diferentes gases.

Quanto ao ADP, de ontem (dia 3) à noite, há um novo texto que é mais geral e fraco que o anterior, e que remete para meados de 2013 o desenhar e o verdadeiro início dos trabalhos rumo a um futuro acordo. Em Doha, pouco se está a avançar…

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por Quercus às 08:33