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EUA - Vamos discutir equidade e responsabilidades

Quarta-feira, 05.12.12

Um dos discursos formais ao plenário mais aguardados e que teve lugar pouco depois do discurso da Ministra do Ambiente de Portugal, foi o do enviado do Presidente Obama para o clima, Todd Stern, em nome dos Estados Unidos da América (EUA). Depois de falar das consequências que todos sabem os EUA sofreram recentemente devidas às alterações climáticas, afirmou que precisam de fazer mais e têm essa intenção, nomeadamente cumprindo o objetivo com que se comprometeram em Copenhaga e depois em Cancun, de reduzir em 17% as emissões entre 2005 e 2020. Aqui, é preciso explicar que Todd Stern não foi muito rigoroso, dado que tal se refere apenas ao dióxido de carbono e não ao total de gases, e que há alguns aspetos na contabilização presente aliás num relatório recente, que mostram que este valor não é assim tão claro e linear.

Mais importante porém, foi os EUA mostrarem disponibilidade para uma discussão sobre a qual têm tido eternos diferendos em particular com a China. Stern afirmou “Vamos proporcionar uma oportunidade para que os países consigam discutir todas as questões críticas, incluindo o princípio da equidade e das responsabilidades comuns mas diferenciadas e as respetivas capacidades. Os Estados Unidos gostariam de se envolver nessa discussão, porque a menos que possamos encontrar um terreno comum sobre a forma como o princípio se deve aplicar no mundo da década de 2020, não teremos sucesso em produzir um acordo na nova Plataforma de Durban. E nós temos de ter sucesso. Portanto, vamos ter essa discussão.”. Espera-se agora se nos vários segmentos da negociação aqui em Doha, esta perspetiva profunda de abertura para discutir (e assumir) as responsabilidades históricas e atuais das emissões e do financiamento são mesmo para levar a sério.

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por Quercus às 19:00

Não há conferências do clima sem os prémios “Fóssil do Dia”

Quarta-feira, 28.11.12

À semelhança de conferências anteriores, as organizações não-governamentais (ONG) presentes na COP18, em Doha, no Qatar, atribuem diariamente o galardão “Fóssil do Dia” (Fossil of the Day) aos países com pior comportamento negocial. A iniciativa da Rede de Ação Climática (CAN, na sigla inglesa para Climate Action Network) teve início na segunda-feira, com o galardão a ser entregue aos Estados Unidos, Canadá, Rússia, Japão e Nova Zelândia, pelo seu afastamento de um tratado multilateral vinculativo e do próprio Protocolo de Quioto.

Ontem foi a vez da Turquia, país que é o quarto maior investidor do mundo em carvão e teve a maior taxa relativa de crescimento das emissões anuais de gases com efeito estufa (GEE) entre 1990 e 2010. A justificar a distinção está ainda a postura do governo turco ao nomear 2012 como o “Ano do Carvão”, e a afirmação de que não cumprirá as metas no segundo período de compromisso do Protocolo de Quioto. O segundo lugar foi para a União Europeia (UE), que já atingiu a promessa de 20% de redução até 2020 e, segundo a CAN, não deve permanecer mais uma década sem novas metas mais ambiciosas.

Esta quarta-feira, o país agraciado com o primeiro lugar foi o Canadá, pela intenção de restrição do financiamento aos países do terceiro mundo e pelas posições contra novos compromissos com metas mais ambiciosas. O ministro do ambiente terá dito em conversas informais que os países em desenvolvimento não devem contar com mais recursos canadianos para financiar medidas de adaptação às alterações climáticas. As ONG acusam o Canadá de fazer o contrário do que deve: está a cortar no financiamento e a aumentar as emissões.

Em segundo lugar ficou a Nova Zelândia, por não definir a sua meta de redução para o segundo período de compromisso do Protocolo de Quioto, e por propor que o acesso ao Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) deve ser aberto a todos e não depender da assinatura de um segundo período de compromisso. Finalmente, em terceiro lugar, ficaram os Estados Unidos, por mais uma vez rejeitar medidas exigentes de redução das emissões de GEE e pela assinatura, ontem, pelo presidente Obama, de uma lei que permite às empresas aéreas do país não cumprir os regulamentos europeus para voos dentro e fora da UE. Mais em http://climatenetwork.org/fossil-of-the-day

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por Quercus às 19:34

Presidente Obama - Temos esperança na mudança

Terça-feira, 27.11.12

No seu discurso de vitória, o presidente Barack Obama depois de ter sido reeleito para um segundo mandato, aumentou a esperança da população mundial quando disse: "Queremos que as nossas crianças a viver numa América que não é castigada pela dívida, que não é enfraquecida pela desigualdade, que não é ameaçada pelo poder destrutivo do aquecimento do planeta". Essa esperança continuou a aumentar quando numa conferência de imprensa alguns dias mais tarde, ele respondeu a uma pergunta da comunicação social sobre o clima, dizendo que planeava iniciar "uma conversa em todo o país" para ver "como podemos ter uma agenda que acumule apoio bipartidário e a faça avançar (...) e ser um líder internacional" nas alterações climáticas. O Presidente Obama pareceu entender que a mudança climática é uma questão de herança que não foi devidamente tratada durante o seu primeiro mandato.

A questão, portanto, tem de ser o que vem depois. Neste segundo mandato, o presidente Barack Obama vai tomar a ação ousada necessária para reduzir a ameaça das mudanças climáticas para os EUA e para o mundo, mudando a economia dos EUA rumo a um futuro de carbono zero, e tornando a questão uma peça central da política externa dos EUA? No rescaldo da supertempestade Sandy, e a seca, incêndios e outros eventos climáticos extremos que atingiram os EUA no último ano, é claramente o tempo para o presidente Obama pressionar o botão de reset na política climática, tanto a nível nacional como internacional.

Primeiro, o mundo precisa de ouvir do presidente e da sua equipa de negociação em Doha que permanecem totalmente comprometidos com a manutenção de um aumento da temperatura global abaixo de 2 graus, que é não só possível, mas ainda essencial, e que os EUA vão também liderar neste esforço coletivo.

A administração deve deixar claro como vai cumprir a sua meta de redução de 17 por cento em relação a 2005. Enquanto as emissões dos EUA estão diminuindo ligeiramente - tanto como resultado das políticas do governo sobre energias renováveis e às normas relativas à economia de combustível, mas também por causa da forte queda dos preços de gás natural que reduziram o uso do carvão para a produção de eletricidade - é pouco provável que, sem regulamentação adicional ou legislação que os EUA vão cumprir a sua meta de 2020, nomeadamente face à expansão da exploração de petróleo comprimido e gás de xisto. A delegação americana deve também esclarecer o que a administração Obama vai fazer para colocar os EUA no caminho certo para a quase eliminação das emissões até meados do século, um apelo sistemático da comunidade científica.

Finalmente, as delegações precisam ouvir que os EUA continuam empenhados em cumprir a sua justa parte do compromisso de Copenhaga de mobilização de 100 mil milhões de dólares de financiamento para o clima por ano até 2020, bem como as opções de financiamento inovadoras que a administração está disposta a apoiar para chegar lá.

Estas quatro etapas são um longo caminho para restaurar a diplomacia climática dos EUA. É necessário mostrar que o país, em vez de contribuírem para mais danos no planeta, o presidente Obama e sua equipa estão a comprometer os EUA naquilo que a ciência e o mundo exigem para evitar uma mudança climática catastrófica.

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por Quercus às 12:18