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"Negociações de Doha enterraram no deserto a acção internacional sobre o clima"

Domingo, 09.12.12

Seis das maiores ONG internacionais de ambiente e de desenvolvimento e a Confederação Sindical Internacional fazem um balanço muito negativo da COP18, a conferência das Nações Unidas que terminou ontem em Doha, no Qatar, e condenam os políticos, sobretudo dos EUA, Canadá, Nova Zelândia, Japão, Rússia e Polónia, por terem bloqueado qualquer progresso, assim como a UE e a Austrália por não terem cumprido as suas responsabilidades em matéria de cortes nas emissões e de financiamento.

No final da semana, ActionAid, Christian Aid, Amigos da Terra, Greenpeace, Oxfam e WWF disseram aos governos que qualquer acordo em Doha teria de assegurar a redução de emissões, fornecer financiamento e garantir que um futuro acordo fosse ambicioso e equitativo [ver comunicado]. O apelo, apoiado pela Quercus, deu voz às reivindicações dos movimentos sociais dos países em desenvolvimento e foi subscrito pela Confederação Sindical Internacional.

Em conjunto, as sete organizações afirmaram que os Governos perderam o contacto com a realidade das alterações climáticas, um problema que está a afectar as vidas e o sustento de milhões de pessoas em todo o mundo, através de tempestades, inundações, secas, clima instável, aumento do nível do mar e degelo dos glaciares. As fontes de água e de alimentos também estão sob ameaça, e muitos lares e comunidades têm sido duramente atingidos por impactos climáticos.

Em Doha os Governos falharam, porque os países desenvolvidos não se comprometeram com metas ambiciosas de redução de pelo menos 40% das emissões até 2020, com base em 1990; não asseguraram o financiamento público necessário para aqueles que já são afectados pelas alterações climáticas e para ajudar à transformação necessária nos países em desenvolvimento; nem tão pouco garantiram um futuro acordo climático global ambicioso e equitativo em 2015.

Para estas organizações, a crise climática só será resolvida quando os movimentos sociais tiverem força para obrigar os governos a colocar o interesse das pessoas e do planeta à frente dos interesses económicos de curto prazo. Este movimento tem de trabalhar para ajudar a transformar a nossa comida e energia a nível nacional e global, e para criar uma economia sustentável e de baixo carbono, com empregos decentes e meios de vida para todos. Qualquer hipótese de sucesso para um acordo ambicioso e equitativo global em 2015 depende agora da mobilização de milhões de pessoas em todo o mundo em prol da justiça climática.

"O fracasso dos países ricos, como os EUA, em garantir que as emissões descem e em aumentar o financiamento climático público para salvar vidas, arrisca a condenar o mundo a mais fome. Para as comunidades pobres que enfrentam um clima mais extremo e irregular que atinge severamente as colheitas e pode fazer disparar o preço dos alimentos, combater as alterações climáticas é também uma questão de ter comida na mesa. O resultado obtido em Doha só vai tornar essa tarefa mais difícil nos próximos anos”.
Celine Charveriat, Oxfam Internacional

Este acordo fraco e perigosamente ineficaz  não passa de uma carta de intenções de uma indústria poluente: legitima uma abordagem de inacção enquanto cria a miragem de que os governos estão a agir no interesse do planeta e dos seus habitantes. Doha foi uma zona de desastre, onde países pobres em desenvolvimento capitularam perante os interesses dos países ricos, que acabam por condenar os seus próprios cidadãos aos piores impactos da crise climática. A culpa pelo desastre em Doha pode ser atribuída directamente a países como os EUA, que têm bloqueado e intimidado quem tem uma postura séria na luta contra as alterações climáticas. A nossa única esperança está na sensibilização das pessoas para que tomem medidas.”
Asad Rehman, Amigos da Terra EWNI

"Em Doha, os países ricos quase não se comprometeram com financiamento para a questão das alterações climáticas, e recusaram clarificar como planeiam cumprir o compromisso de angariar anualmente 100 mil milhões de dólares até 2020. O financiamento climático não é ajuda nem caridade, é ter os países industrializados a pagar pelos danos que causaram ao provocarem esta crise climática. E estes países não podem continuar a deixar esta conta injusta para os países pobres, como fizeram em Doha."
Harjeet Singh, ActionAid

“Não haverá empregos num planeta morto, nem uma transição justa com este resultado. Quanto mais esperarmos por metas ambiciosas de redução de emissões, mais a transição será injusta. Precisamos de tempo para construir uma transição justa, para colocar em prática as políticas industriais e sociais que ajudem os trabalhadores a participar plenamente numa economia sustentável. Os adiamentos tornarão a nossa tarefa mais difícil, quase impossível. Para ser justo, a transição deve começar agora.
Sharan Burrow, Confederação Sindical Internacional (CSI)

"O que a ciência nos diz, e o que milhões de pessoas sentiram este ano, é de que a luta contra as alterações climáticas é agora extremamente urgente. Cada ano conta, e cada ano de inacção por parte dos governos aumenta o risco para todos nós. E este ano temos um acordo vergonhosamente fraco, tão afastado da ciência que deve levantar questões éticas aos responsáveis. Colectivamente, responsabilizamos os líderes políticos, porque exigimos um verdadeiro acordo em 2015.
Samantha Smith, WWF

“As alterações climáticas ceifam vidas todos os dias. E os responsáveis pelo atraso na adopção de um acordo global para combater as mudanças climáticas, aqui em Doha, deviam ter vergonha. A sua inacção será paga em vidas e meios de subsistência. Pedimos ao Banco Mundial, PriceWaterhouseCoopers, Agência Internacional de Energia e outros para colocarem dinheiro no que afirmam. Na véspera de Doha, estas entidades emitiram fortes avisos para impulsionar os governos à acção, mas falharam. Neste jogo global, alguém tem de dar o primeiro passo. Por que não as próprias corporações que conduzem às alterações climáticas, que precisam de perceber que não há lucro num planeta morto?"
Kumi Naidoo, Greenpeace Internacional

“O adiamento da necessária acção urgente em Doha significa que os cortes de carbono nos próximos oito anos serão insuficientes e tardios para parar o progresso inexorável da mudança climática. O mundo sofreu mais um ano de clima extremo e os cientistas dizem que isso só vai piorar. E o que vemos agora resulta de apenas 0,8 graus de aquecimento acima dos níveis pré-industriais. Imagine-se como será se o mundo continuar neste caminho para um aquecimento superior a dois graus.” 
Mohamed Adow, Christian Aid

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por Quercus às 16:38

Apelo de emergência das ONG: Doha está à beira do desastre

Quinta-feira, 06.12.12

Seis das maiores ONG de ambiente e de desenvolvimento do mundo endereçaram hoje em Doha um apelo de emergência aos governantes, ricos e pobres, sobre as conclusões das negociações climáticas a decorrer no Qatar. A iniciativa é subscrita pela Quercus, que partilha as preocupações expressas. 

O mundo está a enfrentar uma grave emergência planetária, devido à desestabilização do clima da Terra causada pelo aumento da concentração de gases de efeito estufa, emitidos, sobretudo durante o último século e meio. Os impactes climáticos já estão a afetar milhões de pessoas em todo o mundo devido às temperaturas mais altas, à subida do nível do mar e ao degelo dos glaciares. E muitos milhões mais serão afetados na próxima década, à medida que avançamos na direção das alterações climáticas irreversíveis, se os líderes mundiais não tomarem medidas ambiciosas aqui em Doha.

Apesar da urgente crise climática para as pessoas e para o planeta, os países ricos e industrializados passaram as duas semanas em Doha a tentar baixar mesmo para o mínimo o que seria necessário para um acordo que realmente atenda à ação climática sobre cortes de emissões, financiamento público climático e de perdas e danos.

O fosso entre as conversas e a realidade foi destacado por uma carta aberta assinada por movimentos sociais de todo o mundo em desenvolvimento, pedindo a todos os governos para adotarem políticas fortes e abrangentes, em vez de bloquearem uma década por inércia.

Este apelo, intitulado "Uma carta para os ministros e negociadores que se preocupam com as pessoas e com o clima" foi escrito por seis organizações: Action Aid, Christian Aid, Friends of the Earth, Greenpeace, Oxfam e WWF. Lança uma chamada de emergência aos ministros e negociadores afirmando que a sociedade civil não será cúmplice de um resultado em Doha que vai arriscar a vida de milhões de pessoas.

O mínimo que as pessoas e o planeta precisam de Doha é um acordo que responda às seguintes questões:

• Existe alguma esperança que os países desenvolvidos tenham a ambição de reduzir pelo menos 40% das emissões até 2020, com base em 1990?

• Existe uma forma de exigir que todos os países desenvolvidos acelerem o corte das suas emissões até 2014?

• As emissões excedentárias (do 1º período de compromisso do Protocolo de Quioto) vão ser totalmente canceladas?

• Será negado o acesso aos mecanismos de mercado para aquele não participarem no 2º período de compromisso de Quioto?

• Será adotado, com largas hipóteses de ser ratificado, um 2º período de compromisso?

• Doha vai acordar sobre o financiamento público climático necessário para aqueles que já são afetados pela mudança climática e ajudar a transformação necessária nos países em desenvolvimento?

• Há um compromisso claro de que o financiamento público climático vai aumentar em 2013 até 2020 e conseguir os ainda que insuficientes 100 mil milhões dólares americanos por ano?

• Existe um claro compromisso para conseguir pelo menos 60 mil milhões de dólares americanos novos e adicionais, de financiamento público entre 2013 e 2015?

• Será que 50% do financiamento climático será dirigido para a adaptação?

• Será conseguido um mecanismo internacional para lidar com as perda e danos, para além dos impactes da adaptação?

• Será que Doha vai garantir que o futuro acordo climático global em 2015 é ambicioso e equitativo:

• Será que um futuro acordo climático tem uma referência explícita à equidade, responsabilidade partilhada e capacidades diferenciadas?

• Será que vai incluir um programa de trabalho equitativo?

• Será que vai ter um plano de trabalho para o aumento o nível de ambição pré-2020 ambição, refletindo a realidade científica?

As seis organizações mundiais comprometem-se a nomear e envergonhar os países desenvolvidos que estão a bloquear mesmo este pequeno pacote que nos dá apenas um vislumbre de esperança de que os governos são sérios sobre a luta contra as alterações climáticas.

(vídeo da conferência de imprensa)

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por Quercus às 14:57

80 mil belgas cantam pelo clima

Quinta-feira, 29.11.12

Mais de metade dos municípios belgas aderiam à iniciativa “Cante pelo clima”, uma manifestação cantada que decorreu nos últimos meses e que culminou num fim-de-semana especial a 22 e 23 de Setembro. O resultado são mais de 80 mil vozes belgas a cantar o tema “Do it now” e a pedir à comunidade internacional que assuma compromissos concretos contra as alterações climáticas.

O tema foi baseado na canção italiana "Bella Ciao" e as filmagens obtidas em mais de 180 cidades e comunidades foram agora compiladas no videoclip final pelo realizador Nic Balthazar. Além de ter já sido transmitido às autoridades belgas na véspera da COP18, o vídeo será igualmente mostrado nos próximos dias em Doha, no Qatar. Espreite a letra e junte-se ao coro! Mais sobre a iniciativa em www.singfortheclimate.com.

Letra (em inglês):

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por Quercus às 18:58

ONG pedem mais ambição aos ministros e delegados presentes na COP18

Quinta-feira, 29.11.12

Um grupo de 156 organizações não governamentais de 74 países, entre as quais a Quercus, pediu hoje aos países reunidos na COP18, em Doha, no Qatar, para aumentarem significativamente os seus compromissos de redução de emissões de gases com efeito de estufa (GEE) e para acabarem com as lacunas existentes entre os objetivos de redução propostos e os necessários no âmbito do Protocolo de Quioto. Se isso não acontecer, avisam, não teremos hipótese de evitar os efeitos catastróficos das alterações climáticas.

Na carta enviada (ver em inglês, francês, ou espanhol), as ONG insistem que é fundamental acabar com as licenças de emissão excedentárias que transitaram do primeiro para o segundo período de cumprimento do Protocolo de Quioto, também conhecidas por “ar quente”. Pedem também restrições na concessão e utilização de créditos de emissão decorrentes do sistema de Implementação Conjunta (JI) e do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (CDM), um sistema que dizem não ter supervisão adequada, nem oferecer as salvaguardas previstas nas normas internacionais de direitos humanos.

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por Quercus às 17:34